Sistema de cotas nas universidades e discriminação


Confesso que quando surgiu o assunto sobre as cotas nas universidades, eu era contra, pois pensava que uma ação que separa grupos de pessoas seria uma forma de “discriminação. Realmente só através do conhecimento das estatísticas e dos fatos é que podemos mudar a forma de pensar; lendo o texto “Políticas de ação afirmativa em benefício da população negra no Brasil: um ponto de vista em defesa das cotas” de Kanbengele Munanga, entendi que esta ação era necessária como ação imediata para corrigir as desvantagens que a população negra sofre.
Um dos meus pontos de vista era de que as políticas públicas deveriam beneficiar a população pobre, independente de ser negra ou branca; mas os dados apresentados por Munanga quanto ao percentual de negros nas universidades e a quantidade de brasileiros negros abaixo da linha de pobreza me assustaram, não imaginava que fosse tão desigual em relação à população branca.
Os argumentos de Kanbengele Munanga e Hedio Silva Junior no sentido de uma discriminação positiva envolvendo políticas de ação afirmativa me convenceram, aliás, já tinha abandonado essas convicções quando comecei a perceber os avanços conseguidos através do Prouni. A proposta de cotas é válida como instrumento ou caminho para se alcançar um fim maior, como uso transitório onde outros caminhos seriam inventados e incrementados.
Como disse Munanga o imaginário coletivo brasileiro está encoberto pelo mito da democracia racial. E a negação dos preconceitos só faz com que fique guardado no armário, esperando que um dia uma chave abra a porta e desencadeie um processo ou ato de discriminação.
A estratégia do silêncio e desinformação adotada pelos candidatos ao governo, apontada por Munanga, reflete também a atitude de muitos brasileiros. Como disse anteriormente pensava erroneamente que políticas que atingissem “pobres” iriam também beneficiar a população negra. Após ler os textos desta unidade compreendi que os negros são duplamente discriminados: por ser pobres e negros, e que a discriminação nem sempre é negativa ela pode ser em forma de ações que se qualifiquem como positivas ou justas no sentido de corrigir as ações do passado brasileiro, os anos de escravização e abandono dos negros à própria sorte.
O poema “Mulata exportação” mostra como a mulher negra é tratada, reflete o mito da democracia racial e o pensamento de que a mulata serve para levar pra cama, mas não para casar, para servir aos prazeres sexuais, escondido, para ninguém ver. Não é dançando samba, gostando de carnaval que o preconceito acaba. É nas ações e atos cotidianos que o preconceito mostra sua forma mais cruel, nas piadinhas, nas escolhas, nas conversas.
O filme “Kiriku e a feiticeira” é um recurso didático muito bom para ser trabalhado em sala de aula, pode ser usado como recurso para valorização da cultura africana. Utilizei na aula de História, aproveitei quando estava vendo o capítulo sobre a “África negra”, do livro didático do sétimo ano, que mostrava os contadores de história, os “Griots”(fundamental para a manutenção da cultura malinesa e preservação da história africana). O filme mostra esses senhores mais velhos contando histórias para as crianças mais novas, além de mostrar um mito dos africanos.
Na época que trabalhei esse tema também estava acontecendo na escola uma exposição sobre João Cândido, marinheiro negro que liderou a revolta da chibata; na época a maioria dos marinheiros eram negros e apesar da escravidão já ter sido abolida, tinha-se o costume da castigar os marinheiros com castigos corporais (chibata), foi então que os marinheiros se revoltaram e acabaram com esse castigo. Depois fiz um trabalho com os alunos do que seria a chibata de hoje: o preconceito, a discriminação, o racismo, o bullying, a homofobia; os alunos fizeram cartazes ilustrando, ficou bem legal.

FONTES:

GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. Racismo e Anti-Racismo no Brasil. São Paulo: Editora 34, 1999. (Unid.4)
SILVA JÚNIOR, Hédio. “Ação afirmativa para negros(as) nas universidades: a concretização do princípio constitucional da igualdade”. In: SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e; SILVÉRIO, Valter Roberto. Educação e Ações Afirmativas: entre a injustiça simbólica e a injustiça econômica. Brasília: INEP, 2003.
MUNANGA, Kabengele. “Políticas de ação afirmativa em benefício da população negra no Brasil: um ponto de vista em defesa das cotas”. In: SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e; SILVÉRIO, Valter Roberto. Educação e Ações Afirmativas: entre a injustiça simbólica e a injustiça econômica. Brasília: INEP, 2003.
VÍDEO: Kiriku e a feiticeira - Michel Ocelot
POEMA: Mulata exportação (Elisa Lucinda)

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